FREDERIC MISTRAL
( FRANÇA )
Joseph Étienne Frédéric Mistral ( francês: [mistʁal] ; occitano : Josèp Estève Frederic Mistral , 8 de setembro de 1830 – 25 de março de 1914) foi um escritor e lexicógrafo occitano da forma provençal da língua. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1904 "em reconhecimento à originalidade e à verdadeira inspiração de sua produção poética, que reflete fielmente a paisagem natural e o espírito nativo de seu povo, e, além disso, ao seu significativo trabalho como filólogo provençal ". Mistral foi membro fundador da Félibrige e membro da Académie de Marseille .
Seu nome em sua língua nativa era Frederi Mistral (Mistrau), de acordo com a ortografia mistraliana , ou Frederic Mistral (ou Mistrau), de acordo com a ortografia clássica.
Após concluir seu bacharelado em Nîmes , Mistral estudou Direito em Aix-en-Provence de 1848 a 1851. Tornou-se um defensor da independência da Provença e, em particular, da restauração da "primeira língua literária da Europa civilizada" — o provençal. Estudou história da Provença durante sua estadia em Aix-en-Provence. Emancipado por seu pai, Mistral resolveu: "ressuscitar, reviver na Provença o sentimento de raça...; promover esse renascimento pela restauração da língua natural e histórica do país...; restaurar a moda da Provença pelo sopro e pela chama da poesia divina". Para Mistral, a palavra raça designa "pessoas ligadas pela língua, enraizadas em um país e em uma história".
Por seus esforços ao longo da vida na restauração da língua da Provença, Frédéric Mistral foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura de 1904, após ter sido indicado por dois professores da Universidade Sueca de Uppsala.
BIBLIOTECA DOS PRÊMIOS NOBEL DE LITERATURA
PATRCINADA PELA ACADEMIA SUECA
E PELA FUNDAÇÃO NOBEL
MISTRAL, Frédéric. MIRÉIA.Tradução de Manuel Bandeira. Estudo introdutório de André Chamson. Ilustrações de Yves Brayer. Rio de Janeiro: Editora Opera Mundi, 1971. 287 p. No. 10 929
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Canto uma moça da Provença.
Em seus amores juvenis,
Nas ribeiras da Crau, até o mar, nos trigais,
Discípulo do grande Homero,
Quero segui-la. Camponesa
Simples como era, não admira
Que só na Crau corresse a fama do seu nome.
Bem que sua fronte brilhasse
De juventude apenas, sem
Jamais diadema de ouro ou manto de Damasco.
Quero vê-la glorificada
Como rainha, e acariciada
Por nossa língua desdenhada,
Pois só cantamos para vós, ó provençais!
Tu, Senhor Deus de minha pátria,
Tu, que nasceste entre pastores,
Dá alento à minha voz, fogo às minhas palavras.
Tu o sabes: em meio à verdura,
Aos raios do sol, à orvalhada,
Quando os figos amadurecem
Vem o homem como um lobo e pilha a árvore toda.
Mas na árvore que ele destroça,
Tu preservas sempre algum ramo
A que não chega a mão insaciável dos homens,
Belo rebento prematuro.
E redolente e virginal,
Belo fruto madalenense,
Onde o pássaro do ar vem aplacar a fome.
Eu, vejo-o bem, esse raminho,
E sua frescura me atrai!
Vejo, bulindo no ar, ao perpassar do vento,
Suas folhas e imortais frutos...
Belo Deus, Deus meu, sobre as asas
De nossa língua provençal,
Dá-me possa eu colher o alto galho dos pássaros!
Ao pé do Ródano, entre os choupos
E os salgueiros de suas margens,
Em pobre choça carcomida pelas águas,
Morava com o filhos um cesteiro,
E ganhavam os dois a vida
De granja em granja reparando
Cestas rompidas e canastras estouradas.
Um dia que iam campo afora
Com seus longos feixes de vime:
“Pai”, exclamou Vicente, “olhe só para o sol!
Está vendo, na Magalona,
As nuvens como o envolvem todo?
Se aquele muro se acumula,
Seremos, antes de chegarmos, ensopados.”
— “Oh, o vento do mar bole as folhas...
Não!... “Ah, se soprasse o Rau, é diferente!...”
— “Quantas charruas em serviço,
Pai, há na Grana das Almezas:”
— “Seis”, lhe respondeu o cesteiro.
“E das mais ricas propriedades que há na Crau.
“Olha, vês os meus olivais?
No meio deles há umas faixas”,
O velho continuou, “de vinhas e oliveiras.
Mas o belo, e não há na costa
Dois, o belo é que as alamedas
São tantas como os dias do ano,
E em cada uma as árvores também são tantas!”
— “Puxa, Pai!” exclamou Vicente.
“Quantas moças não são precisas
Para colher tanta azeitona!” — “Oh, isso é o menos!
Venha dezembro, e as raparigas
Encherão sacos e lençóis
De azeitonas vermelhas, pardas!...
E mais que houvesse, elas cantando as colheriam!”
E Mestre Ambrósio prosseguia
Falando... O sol já descambava,
De variado matiz tingindo as nuvenzinhas;
Os homens, sobre os animais,
Voltavam para a consoada,
De aguilhões em riste... Nos pântanos
A noite começava a adensar suas sombras.
— “Olhe! Já se avista na eira
O topo da meda de palha”,
Disse Vicente ao pai. “Estamos a bom recato!...”
— “Aqui vivem bem as ovelhas!
Ah, no verão, entre os pinheiros;
No inverno, nas secas chanuras”,
O velho comentou... “Oh, aqui há de tudo!
“E todos esses arvoredos,
Que sobre os telhados dão sombra!
E essa bonita fonte a correr num viveiro!
E todos esses colmeais,
Despojados a cada outono,
E que penduram, vindo maio,
Mil enxames nas grandes franças dos almezes!
— “Oh! depois, em toda esta terra,
Pai, o que ainda mais me agrada,”
Interrompa Vicente: “é a mocinha da granja...
Não está lembrado, meu pai?
No último verão lhe tecemos
Dois cabazes para colheita,
E lhe pusemos alças nova num cestinho.”
Desta sorte os dois, conversando,
Dirigiram-se para a porta.
Dera a moça comida aos seus bichos-da-seda;
Depois do que, em pé na soleira,
Ficou torcendo uma meada.
— “Boa tarde a todos!” o cesteiro
Saudou, depondo em terra os seus feixes de vime.
— “Boa tarde. Mestre Ambrósio”, disse
A moça, “estou prendendo o fio
Na ponta do meu fuso! E vocês? De onde vêm
— “Justamente! Se chegando à Granja
Das Almezas, pernoitaremos
Aqui, dissemos, o palheiro é boa cama!”
E o velho cesteiro e seu filho
Foram sentar-se sobre um rolos,
Sem dizer mais palavras: a tecer todos dois
Uma canastra começada
Aplicaram-se alguns instantes,
E sacando do feixe os vimes
Cruzavam com perícia as varetas flexíveis.
Tinha o filho dezesseis anos,
Mas de corpo como de cara
Era um belo rapaz, dos de melhor estampa:
Faces bastante amorenadas.
Lá isso eram, porém a terra
Negra sempre produz bom trigo,
E o vinho de uva escura é o que mais faz dançar!
De tudo o que de seu ofício
Deve conhecer um cesteiro
Ele sabia a fundo, ainda que de ordinário
Não trabalhasse em obra fina:
Mas canastras para cangalhas,
Tudo o que é preciso nas granjas,
Balaios cômodos, cabazes, açafates,
Cestos de caniço talhado,
Tudo objetos de pronta venda,
Canistréis para o milho, e muitas coisas mais,
Ele os fabricava com mão
De mestre, fortes e polidos...
Mas já da labuta campestre
Haviam regressado a casa os lavradores.
Já lá fora a linda Miréia
Havia posto sobre a mesa
De cedro a habitual salada de legumes;
E da travessa transbordante
Cada homem já se servia
Sua colherada de fava...
E Ambrósio e o filho sempre a trançar... — “Eh, amigos!
“Então? Não vêm comer conosco?”
Com seu ar meio desbrido
Interpelou Mestre Ramon, dono da granja.
“Vamos, basta de trabalhar!
Não veem nascer as estrelas?
Miréia, traze uma escudela.
À mesa, que vocês devem de estar cansados!”
“Com prazer!” disse-lhe o cesteiro.
E a um canto da mesa de pedra
Assenta-se com o filho e cortaram seu pão.
Miréia, lépida e graciosa,
Temperou para eles com
Azeite sum prato de favinhas,
Que em seguida veio trazer-lhes ela mesma.
Miréia andava em seus quinze anos...
Costas azuis de Fonte Velha.
Vós, colinas de Baux, vós, planícies da Crau,
Nunca vistes nada mais belo:
Botão desabrochado ao sol!
Em suas faces frescas e ingênuas,
Duas covinhas vinha abrir cada sorriso.
E seu olhar era um orvalho
Que dissipava toda penas...
Menos doce luz uma estrela e menos pura;
Os cabelos lhe negrejavam,
Anelando-se até as pontas;
E seus peitos arredondados
Eram dois pêssegos ainda não maduros.
E buliçosa, brincalhona,
Seu tanto selvagem também,
Ah, se vísseis num copo de água aquela graça.
Nildo, colocar aqui a imagem da página 48 a
Num trago a teríeis bebido!
Depois que cada qual, conforme
O uso, falou de seu trabalho
(Como no granja de meu pai, bom tempo, ai, ai!)
— “Então, Mestre Ambrósio, esta noite
Reclamaram. “Vai-se dormir, matada a fome?”
— Psiu! meus bons amigos, quem zomba”,
O velho respondeu, “Deus sopra,
Fá-lo girar como um pião!...
Cantem vocês, que são rapazes e são fortes!”
— “Mestre Ambrósio”, lhe responderam,
Olhe, o vinho da Crau vai com pouco entornar-se
Do seu copo... Eia pois! Bebamos!”
— “Ah, no meu tempo fui cantor,
Bom cantor! “ retrucou o cesteiro,
“Mas agora sou uma cigarra que estourou!”
— “Cante, Mestre Ambrósio, é tão bom!
Cante um pouco!” pediu Miréia.
— Minha bela menina”, Ambrósio respondeu,
Minha voz é sempre espiga sem grão,
Mas vou te fazer a vontade.”
E sem mais começou destarte,
Após virar de uma só vez seu vinho todo.
(...) (...) (...)
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Página publicada em setembro de 2025.
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